Feirantes protestam contra privatização de mercados municipais em Rio Branco: 'Vai ficar muito caro'
16/12/2025
(Foto: Reprodução) Feirantes protestam contra entrega de mercados municipais à iniciativa privada no AC
Comerciantes fecharam a entrada do Terminal Urbano, no Centro de Rio Branco, na manhã desta terça-feira (16), em protesto contra o projeto de lei complementar que entrega à iniciativa privada os mercados municipais por meio de licitação. Os feirantes reclamam da falta de diálogo e de transparência.
O g1 entrou em contato com a prefeitura da capital e aguarda retorno.
📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp
Os manifestantes também fecharam a Avenida Ceará, uma das principais ruas de Rio Branco, fazendo com carros precisassem desviar o caminho e gerando congestionamento na região.
Com a nova determinação, a iniciativa privada terá a permissão de administrar, gerir e fazer a manutenção dos locais.
O comerciante Djalma Cordeiro citou que a prefeitura alegou não ter condições para administrar os mercados. "Com essa nova lei que foi aprovada, vamos perder nossos direitos de concessão. Se atrasarmos três meses, eles tomam nosso espaço, nosso box. Sem contar que o valor do aluguel vai ser alto. Hoje, a gente paga uma taxa mínima", explicou ele.
LEIA TAMBÉM:
Projeto que entrega mercados municipais à iniciativa privada é aprovado na Câmara de Rio Branco
Programa para mulheres vai receber apenas R$ 3 de orçamento para 2026 em Rio Branco
Garis dispensados no Natal e Ano Novo, alunos na Nasa e mais: veja projetos aprovados e rejeitados pelos vereadores de Rio Branco
Sem unanimidade, LOA 2026 é aprovada com R$ 60 milhões a menos que 2025 para Rio Branco
Eliana França trabalha no Mercado Municipal Aziz Abucater há 31 anos. Para ela, com a nova lei, muitas famílias podem ser obrigadas a fechar os boxes por não terem condições de arcar com o aumento dos custos.
"Vai ficar muito caro e muita gente não vai conseguir pagar. Eu vendo salgados a R$ 2,50, suco a R$ 2,50. Criei meus filhos com isso. A gente paga funcionário, paga luz, que não é barata, paga impostos e com esse aluguel, vai ficar ainda mais difícil. Não vivemos só para pagar contas, tem que manter a casa e a comida", pontuou ela.
Manifestante fecharam avenida em Rio Branco
Aline Pontes/Rede Amazônica Acre
Quem já trabalha em mercado privatizado diz que entende a preocupação dos comerciantes. O comerciante Jimy Silva assegurou que a privatização não será boa para os feirantes, pois já observou o mesmo acontecer no Aquiry Shopping, também no Centro de Rio Branco.
"Lá há pessoas passando necessidades. Antes, pagávamos no máximo R$ 50, agora, chega a R$ 800. Em vez de comprar comida, a pessoa tem que pagar aluguel. Se não pagar, o box é retomado. Tem gente com 40, 50 anos de trabalho que pode perder seu ponto e perder tudo de uma hora para outra.”, lamentou ele.
Polêmica
O projeto aprovado pelos vereadores, numa sessão em plena madrugada de sexta (12), agora vai à sanção do Prefeito Tião Bocalom (PL). Os contratos de concessão poderão durar de cinco a quinze anos, com possibilidade de prorrogação até o limite de 35 anos.
A empresa vencedora da licitação será responsável pela manutenção, limpeza e segurança dos espaços, além da gestão comercial, cobrança de aluguel dos boxes, investimentos estruturais e modernização dos prédios.
Última sessão da Câmara de Vereadores de Rio Branco aprovou projeto que entrega mercados municipais à iniciativa privada
Reprodução
O vereador Fábio Araújo (MDB) concordou com os questionamentos dos comerciantes dos mercados. Ele citou que há pessoas trabalhando com isso há mais de 40 anos que iriam perder suas concessões.
"Não se sabe como será a questão do aluguel. Quem vende cheiro verde em uma banquinha, muito provavelmente não vai ter condição de pagar o aluguel. E o projeto de lei, e a lei que foi aprovada não trata de valores ou qualquer outro item que possa prejudicar essas famílias", comentou o vereador.
A lei também prevê a possibilidade de subsídio público de até 30% das despesas de funcionamento, caso estudos técnicos apontem inviabilidade financeira da operação. Esse subsídio deverá ser reavaliado anualmente.
Segundo a prefeitura, o objetivo da concessão é modernizar os mercados e garantir uma gestão mais eficiente. O secretário municipal de agropecuária, Eracides Caetano, explicou como a lei deve funcionar.
"A gente vai fazendo um trabalho do início até o fim e acompanhar todo esse pessoal nos box nos mercados de Rio Branco. O [mercado] Elias Mansour, que vai ser um prédio novo, que vai ter uma estrutura ótima de acolhimento para as pessoas que vem de fora, vai ser um ponto turístico. Então é esse valor que pode ser repassado pelas pessoas que estão lá, que as pessoas vão repassar para o consumidor. Eles não vão ter prejuízo".
VÍDEOS: g1